Pelo menos uma boa notícia: um aplicativo criado por um grupo de voluntários de Brasília para monitorar os gastos de deputados produziu seu primeiro resultado – o deputado federal Celso Maldaner (PMDB-SC) devolveu R$ 727,78, referentes a 13 refeições feitas no mesmo dia e pagas com dinheiro da Câmara dos Deputados. A reportagem é do jornal O Globo.
O aplicativo funciona cruzando informações de bancos de dados públicos, como o da Câmara e o da Receita Federal. “Com uma nota fiscal do almoço de um deputado, a gente verifica se o restaurante realmente existe. Vemos, por exemplo, se a empresa é do genro dele. E se o deputado compra passagem para Tocantins e almoça em Manaus, isso lança um alerta”, disse ao jornal O Globo um dos criadores da ferramenta, o publicitário de Brasília Pedro Vilanova.
O site dos voluntários pode ser acessado aqui:
ROBÔS LUTANDO CONTRA A CORRUPÇÃO NO BRASIL
“A Operação Serenata de Amor nasceu de uma combinação de necessidades de muitas pessoas: de ver Aprendizado de Máquina aplicado para melhorar nossas vidas, de aprender em quem devemos votar e de fazer algo a respeito do problema de corrupção que afeta o mundo inteiro.
Estamos construindo uma inteligência artificial capaz de analisar contas públicas e de dizer, com confiança, a possibilidade de cada nota ser ilegal. Tudo que estamos construindo está sendo feito com código aberto desde o início, onde você, como tantos outros já fazem, pode contribuir ativamente com a construção do projeto”, dizem os criadores do projeto em seu site.
O trabalho para “ensinar” as máquinas a identificar possíveis irregularidades é feito principalmente por sete especialistas, e conta com ajuda de mais de 180 voluntários.
“A ideia surgiu em um estalo, em uma conversa pelo chat. ‘E se nós aplicarmos essa tecnologia no trabalho que já é feito para combater a corrupção?’, pensei. Como estamos acostumados a criar aplicativos, começamos a brincar e nos surpreendemos com o resultado”, disse ao Globo o desenvolvedor Felipe Cabral, um dos idealizadores.
Batizado de “Serenata de Amor”, o projeto faz referência a um escândalo ocorrido nos anos 1990 na Suécia, conhecido como “Caso Toblerone”. Com base em compras do chocolate, investigadores descobriram que a mais cotada candidata a primeira-ministra do país usava verba pública para cobrir gastos pessoais.
O sistema faz um pente-fino em verbas indenizatórias de deputados atrás de irregularidades. Entre os cerca de mil casos de irregularidades já identificadas pelo app, está o de um deputado que pediu reembolso de uma cerveja comprada em um restaurante badalado de Las Vegas, nos Estados Unidos – mesmo que seja proibido usar dinheiro público para comprar bebida alcoólica. Também há o de outro parlamentar, que gastou R$ 144 com vinhos em um hotel de Brasília.
Segundo Pedro Vilanova, a checagem de notas fiscais já acontecia manualmente desde 2013. Pelo menos 237 casos flagrantes foram reportados ao Ministério Público, que conseguiu retorno de R$ 5,5 milhões desviados. No plano digital, o desafio é ensinar as máquinas a ficarem alertas diante de uma eventual fraude.
“Se o parlamentar faz uma refeição de R$ 600, e a gente sabe que a média lá é de R$ 100, a máquina identifica isso como ponto fora da curva. Então, a gente vai lá e investiga.”
De acordo com os integrantes, a iniciativa é apartidária. “Hoje a tecnologia de ciência de dados está na mão de poucos, principalmente de empresas como Google e Facebook. A ‘Operação Serenata de Amor’ é um movimento para ajudar nosso país a resolver problemas que vemos poucos se preocupando e atacando diretamente”, disse ao Globo o programador Írio Musskopf, líder técnico do grupo.
Com a automatização, o grupo espera investigar gastos de políticos de outras casas além da Câmara em breve.
Do jornal O Globo:
Após ser flagrado por app, deputado devolve à Câmara R$ 727 por 13 refeições no mesmo dia
Por Gabriel Luiz, G1 DF
O software criado para monitorar gastos públicos conseguiu a primeira devolução de dinheiro usado de forma irregular. Alegando “equívoco da assessoria”, o deputado federal Celso Maldaner (PMDB-SC) devolveu R$ 727,78, referentes a 13 refeições feitas no mesmo dia e pagas com dinheiro da Câmara dos Deputados.
As refeições ocorreram em setembro de 2011 e custaram entre R$ 23 e R$ 87, cada uma. O deputado só devolveu o dinheiro em 28 de novembro. Procurada, a chefia de gabinete do parlamentar disse reconhecer que houve um erro ao pagar o almoço de um grupo de idosos que foi visitar a Câmara à época. Segundo a assessoria, o motorista do deputado cometeu um equívoco por ter colocado as notas no nome do político. “Vamos tomar as providências necessárias”, disse o chefe de gabinete, Alberto Contini.
O gasto foi percebido pelo programa criado por um grupo de desenvolvedores que vasculham documentos atrás de inconsistências no uso da verba indenizatória da Câmara.
Entre os cerca de mil casos flagrantes descobertos, há o de um deputado que pediu reembolso de uma cerveja comprada em um restaurante badalado de Las Vegas, nos Estados Unidos – mesmo que seja proibido usar dinheiro público para comprar bebida alcoólica. Também há o de outro parlamentar, que gastou R$ 144 com vinhos em um hotel de Brasília
A ferramenta funciona cruzando informações de bancos de dados públicos, como o da Câmara e o da Receita Federal. “Com uma nota fiscal do almoço de um deputado, a gente verifica se o restaurante realmente existe. Vemos, por exemplo, se a empresa é do genro dele. E se o deputado compra passagem para Tocantins e almoça em Manaus, isso lança um alerta”, afirma um dos criadores, o publicitário de Brasília Pedro Vilanova.
O trabalho para “ensinar” as máquinas a identificar possíveis irregularidades é feito principalmente por sete especialistas, contando com ajuda de mais de 180 voluntários pelo mundo.
“A ideia surgiu em um estalo, em uma conversa pelo chat. ‘E se nós aplicarmos essa tecnologia no trabalho que já é feito para combater a corrupção?’, pensei. Como estamos acostumados a criar aplicativos, começamos a brincar e nos surpreendemos com o resultado”, disse o desenvolvedor Felipe Cabral, um dos idealizadores.
Batizado de “Serenata de Amor”, o projeto faz referência a um escândalo ocorrido nos anos 1990 na Suécia, conhecido como “Caso Toblerone”. Com base em compras do chocolate, investigadores descobriram que a mais cotada candidata a primeira-ministra do país usava verba pública para cobrir gastos pessoais.
Segundo Pedro Vilanova, a checagem de notas fiscais já acontecia manualmente desde 2013. Pelo menos 237 casos flagrantes foram reportados ao Ministério Público, que conseguiu retorno de R$ 5,5 milhões desviados. No plano digital, o desafio é ensinar as máquinas a ficarem alertas diante de uma eventual fraude. “Se o parlamentar faz uma refeição de R$ 600, e a gente sabe que a média lá é de R$ 100, a máquina identifica isso como ponto fora da curva. Então, a gente vai lá e investiga.”
De acordo com os integrantes, a iniciativa é apartidária. “Hoje a tecnologia de ciência de dados está na mão de poucos, principalmente de empresas como Google e Facebook. A ‘Operação Serenata de Amor’ é um movimento para ajudar nosso país a resolver problemas que vemos poucos se preocupando e atacando diretamente”, afirma o programador Írio Musskopf, líder técnico do grupo. Com a automatização, o grupo espera investigar gastos de políticos de outras casas além da Câmara em breve.
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