Da escola ao Parlamento: mídias sociais ajudam a baixar faixa etária de políticos na Suécia

Claudia Wallin
De Estocolmo para a BBC Brasil

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Ebba Busch Thor acaba de completar 28 anos de idade e exibe uma imensa barriga de gravidez do bebê que dará à luz ainda neste mês.

Ela é introduzida em um programa de entrevistas na TV sueca, pois acaba de ser escolhida para liderar o partido Democrata-Cristão (Kristdemokraterna).
Ebba é a ‘cara’ de um fenômeno recente na Suécia: a ascensão dos jovens aos círculos seletos da política.

A média etária dos políticos suecos nunca foi tão baixa, e dois ministros do governo sequer completaram 30 anos de idade. Entre os líderes partidários, a média de idade é de 42 anos. Tanto entre os membros do governo como no Parlamento, o índice é de 45,5 anos.

A média etária dos parlamentares caiu em 1,5 ano em relação a 2010, quando havia sido registrado um índice recorde de 47 anos de idade.

No Brasil, segundo a consultoria Bites, a idade média dos parlamentares é de 58 anos no caso dos senadores e de 50 no caso dos deputados federais. Os atuais ministros do governo Dilma têm, em média, 58 anos. O mais novo é o ministro da Pesca, Helder Barbalho, de 35 anos.

A participação dos jovens na política está longe de ser novidade na Suécia, que já na década de 1960 viu o primeiro-ministro social-democrata Olof Palme assumir o cargo aos 42 anos de idade. Mas é uma tendência que cresce.

No debate que se produziu na Suécia para tentar explicar o fenômeno, um dos argumentos é o poder representado pelas mídias sociais, utilizadas com destreza pelas camadas jovens.

Ninguém discorda da força das mídias sociais em qualquer cenário político atual. Mas para a mais jovem ministra do governo sueco, elevada ao cargo aos 27 anos de idade, a participação dos jovens na política tem raízes mais profundas na Suécia.

“Acredito que a explicação para essa tendência está no fato de que a sociedade sueca acredita no indivíduo, independentemente da idade”, diz à BBC Brasil a ministra Aida Hadzialic, responsável pela pasta de Ensino Secundário e assuntos relacionados à ampliação do conhecimento.

“Somos ensinados na Suécia que todo indivíduo é importante, e isso começa desde a infância. Porque as escolas nos encorajam a expressar nossas próprias opiniões, e nos dizem que a nossa voz tem valor e deve ser ouvida. Crescemos com a percepção de que as opiniões das crianças e dos jovens são respeitadas em nossas sociedade. Assim, cada vez mais cresce o número de jovens na política. Além disso, a Suécia tem um ambiente político bastante respeitável, e em nosso país o poder político não é restrito a grupos privilegiados”, afirma a ministra.

Aida Hadzialic trabalha ao lado de colegas como Gabriel Wikström, que tornou-se ministro da Saúde aos 29 anos de idade, e outros três ministros que ainda não chegaram aos 40 anos. O ministro da Educação, Gustav Fridolin, tem 31 anos de idade e foi eleito como um dos líderes do Partido Verde sueco aos 28 anos – assim como a atual líder do Partido do Centro, Annie Lööf, também de 31 anos.

“Na Alemanha, a média etária entre os líderes partidários é de 58 anos. Mesmo entre nossos vizinhos escandinavos, os políticos são em média cinco anos mais velhos do que os suecos”, diz a jornalista sueca Michaela Möller, autora de um livro sobre a ascensão dos jovens na política.

Michaela aponta duas razões centrais para a tendência:

“Em primeiro lugar, para partidos políticos que vêm perdendo adeptos, um rosto jovem pode simbolizar um sinal de que o partido está adotando novas ideias. Além disso, pessoas jovens têm muita habilidade em lidar com as mídias sociais, o que tornou-se extremamente importante. Quando uma pessoa obtém milhares de seguidores no Twitter, por exemplo, ela conquista uma plataforma própria. E junto com essa plataforma, vem o poder”, afirma a jornalista.

Editora de Opinião do jornal Expressen, Michaela Möller indica que há exemplos de pessoas que saíram diretamente dos bancos escolares do ensino secundário para o Parlamento sueco, após organizarem manifestações e campanhas políticas no Facebook.

“Isto não quer dizer que os jovens dominarão todos os aspectos da vida política na Suécia. É importante notar também que os políticos jovens não estão necessariamente apenas interessados em temas relacionados à juventude”, diz a jornalista.

Já na opinião da ministra Aida Hadzialic, o papel desempenhado pelas mídias sociais na política sueca é importante – mas não preponderante.

“As mídias sociais são utilizadas amplamente na Suécia, independentemente da idade ou do background de uma pessoa. Portanto, não vejo isso como uma vantagem especialmente competitiva dos jovens. Além disso, em nosso país as pessoas votam essencialmente em partidos, e não em indivíduos. Nossos representantes são eleitos de acordo com as listas partidárias”, afirma a ministra.

“A grande diferença, a meu ver, é que não temos na Suécia a concepção de que a figura de um homem mais velho representa um símbolo maior de conhecimento e competência. E existe ainda o sentimento de que eleger jovens representantes significa uma mensagem de renovação política”, afirma Hadzialic.

A ministra diz que a ascensão dos jovens não se limita ao campo da política: algumas das maiores e mais inovadoras empresas suecas, como Skype, Spotify e Minecraft, foram fundadas por pessoas jovens.

“Isto não apenas acentua a imagem dos jovens como pessoas capazes, mas também demonstra, principalmente, que esta é uma sociedade que abre possibilidades para nós, jovens. Porque as velhas gerações têm acreditado nas gerações mais jovens na Suécia, e dado a nós o conhecimento, as ferramentas e o espaço que precisamos para nos desenvolver e superarmos limites”, ela diz.

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A ministra Aida Hadziali

Na Suécia, a falta de experiência dos jovens nem sempre é um argumento: apesar da pouca idade, tanto a líder do partido Democrata-Cristão como um dos dois líderes do Partido Verde (sempre liderado por uma dupla formada por um homem e uma mulher) já acumulam vários anos de experiência política na bagagem.

“Gustav Fridolin tinha 11 anos quando se envolveu na política, e tornou-se líder do Partido Verde aos 28 anos de idade. Hoje, aos 31 anos, ele tem 20 anos de experiência na política”, diz a jornalista Michaela Möller, autora do livro Broilers – de nya makthavarna oh det samhälle som formade dem (Frangos – os novos governantes e a sociedade que os moldou, em tradução livre).
“Já o primeiro-ministro social-democrata Stefan Löfven, que tem 58 anos, só entrou na vida política há poucos anos”, diz a jornalista.

A ministra Aida Hadzialic destaca, porém, que os jovens são apenas uma parcela do jogo democrático.

“Penso que precisamos de democracias verdadeiramente representativas. E para obtê-las, precisamos ter todos os tipos de pessoas representadas, a fim de refletir um país. Por isto, na representação política de um país verdadeiramente democrático nós precisamos de jovens, de idosos, e de todo tipo de pessoas. É isso que buscamos na Suécia.”

A noção de cidadania permanece ampla na Suécia: nas eleições de setembro de 2014, nada menos que 600 octogenários disputaram as eleições locais, e 21 candidatos com idade acima de 90 anos participaram das eleições gerais.

Em debate na rádio sueca sobre a ascensão dos mais jovens, o veterano político social-democrata Bengt Göransson, de 82 anos, resumiu a crença sueca de que a política não é um feudo que privilegia os mais velhos:

“A idade não é um fator tão decisivo assim. Conheço vários velhos que são estúpidos.”

* Publicado originalmente na BBC Brasil
*com colaboração de Mariana Schreiber, de Brasília

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