O Prefeito Sten Nordin no Corredor do Conselho, na Prefeitura
[av_hr class=’invisible’ height=’50’ shadow=’no-shadow’ position=’center’ custom_border=’av-border-thin’ custom_width=’50px’ custom_border_color=” custom_margin_top=’30px’ custom_margin_bottom=’30px’ icon_select=’yes’ custom_icon_color=” icon=’ue808′ font=’entypo-fontello’]”Não tenho direito a residência oficial de luxo e não costumo circular em carro com motorista. Políticos não andam em limusines por aqui”– Sten Nordin
Uma massa de ar gelado envolve todo o país, anuncia a rádio sueca na manhã de março em que a neve açoita as janelas. Como se fosse um acontecimento invernal digno de notícia, penso, ao sair para a entrevista com o prefeito Sten Nordin. As ruas ainda estão cobertas por capas de gelo endurecido, e chego a considerar calçar as proteções anti-derrapantes para sapatos que os suecos, por vaidade ou constrangimento, preferem considerar como acessório de idosos. Mas o orgulho vence, mais uma vez, o bom-senso.
O prefeito Sten Nordin estará certamente chegando no ponto do ônibus número 3, na Hantverkargatan, próximo à sede da Prefeitura. Já o vi antes ali, olhando aleatoriamente para o painel eletrônico que indica, com precisão sueca, em quantos minutos o ônibus estará chegando. O cinegrafista Casimir Reuterskiöld, que vive no bairro de Kungsholmen, costuma ver o prefeito na mesma fila de ônibus no fim do dia, geralmente carregando uma sacola de compras do supermercado Konsum.
No caminho para a sede da Prefeitura, algumas calçadas estão bloqueadas para o trabalho de operários que ainda jogam, de cima dos tetos dos edifícios da cidade, imensos blocos de gelo. Um trabalho que dura todo o inverno, para prevenir casos de ferimento ou morte de pedestres atingidos por tijolaços de gelo que se desprendem do alto dos prédios.
Ao me aproximar das águas do lago Mälaren, avisto a cúpula dourada da Prefeitura de Estocolmo com suas Três Coroas, tradicional símbolo da Suécia. Desvio o olhar por um momento para o trecho da baía onde, na semana anterior, um carro da polícia caiu através da superfície congelada das águas após uma manobra fatal, matando o policial.
O gigantesco prédio da Prefeitura, erguido no início do século XX com mais de oito milhões de tijolos, tem o estilo de um palácio renascentista italiano. Sigo para o encontro com o prefeito através do chamado Corredor do Conselho. Ali, acima dos portais dos gabinetes políticos, vejo bustos em mármore representando operários que ajudaram a erguer a construção: Oscar Asker, um carpinteiro; E. Törnblad, um pedreiro; o madeireiro Johan Ludvig Malmström, e outros quatro companheiros.
A meu lado, o porta-voz Aaron Korewa me conduz a uma sala de reuniões no fim do corredor, e se desculpa ao dizer que a entrevista não poderá ser feita no gabinete do prefeito. Pergunto por quê. ”O gabinete é muito pequeno”, diz Aaron. Minutos depois, o prefeito Sten Nordin (Partido Moderado) surge no Corredor do Conselho, caminhando em nossa direção.
. O que representam os bustos em mármore de trabalhadores comuns, que vemos aqui acima dos portais dos gabinetes políticos?
STEN NORDIN: Este é um símbolo importante para nós. Na época da construção da sede da Prefeitura, há 80 anos, a idéia foi retratar cidadãos comuns, ao lado dos políticos que iriam trabalhar aqui. Isto reflete a forte crença, aqui na Suécia, de que políticos e cidadãos devem estar no mesmo patamar de igualdade. E de que não deve haver grandes diferenças entre as condições de vida de um político e um cidadão.
. O senhor costuma ser visto na fila do ônibus, no final do dia, carregando uma sacola de supermercado.
STEN NORDIN: Naturalmente.
. Não tem direito a um carro oficial com motorista?
STEN NORDIN: Tenho um carro para uso em eventos oficiais, ou em ocasiões quando há algum tipo de risco de segurança. Mas venho trabalhar de ônibus e algumas vezes a pé, como faz a maioria dos moradores de Estocolmo.
. Como prefeito, o senhor não tem direito a residência oficial. Tem algum tipo de benefício extra, como auxílio para transporte ou alimentação?
STEN NORDIN: Não. Tenho apenas meu salário, nada mais. Uma vez por semana, eu e os vice-prefeitos nos reunimos durante um almoço. Podemos encomendar refeição no restaurante situado aqui no prédio, e o valor que pagamos por este almoço semanal é reembolsado pela Prefeitura. Mas somos obrigados a informar o valor da refeição ao Skatteverket (Autoridade Fiscal sueca), e temos que pagar imposto sobre a quantia. Tenho entretanto, é claro, verba de representação para ocasiões especiais, como quando recebo visitas do exterior.
. O senhor recebe uma remuneração bastante superior à média salarial do país. Também pode receber pensão vitalícia quando deixar o cargo de prefeito?
STEN NORDIN: Sim.
. Não considera isso um privilégio?
STEN NORDIN: Sim, na verdade este é um privilégio que vem sendo muito debatido, e por isso as regras vão ser mudadas. E acho que devem ser mudadas. Atualmente, se um prefeito tem menos de 50 anos de idade ao deixar o cargo, ele recebe pensão por no máximo dois anos. Mas se ele tem 50 anos ou mais, passa a ter direito a pensão vitalícia. E achamos que 50 anos de idade é cedo demais para uma pessoa se aposentar.
. Por que a maioria dos políticos locais não deve receber salário?
STEN NORDIN: É importante para nós não ter muitos políticos trabalhando em tempo integral a nível local, porque consideramos que as autoridades locais devem ser fortemente vinculadas aos cidadãos comuns, e ser dirigidas por cidadãos comuns. Este é o conceito da nossa democracia local. Um político local deve ter o próprio emprego num trabalho normal, e dedicar várias horas por semana às atividades políticas. Achamos que isso é muito bom para a democracia, e por isso não queremos muitos políticos recebendo salário.
. Como funciona o sistema na prática?
STEN NORDIN: A Câmara Municipal estabelece as metas para o trabalho a ser desenvolvido na municipalidade, e o Conselho Municipal Executivo, que é eleito pelos vereadores, elabora diferentes proposições. As proposições são então apresentadas aos vereadores, que votam a decisão a ser tomada. Antes de serem votadas pelos vereadores, as questões são debatidas por diversos comitês. Algumas outras decisões são tomadas diretamente pelo Conselho. Ou seja, pode-se dizer que se a Câmara Municipal é o ”parlamento” de Estocolmo, o Conselho Municipal Executivo, presidido pelo prefeito, é o governo da cidade. Quando uma decisão política é aprovada, as empresas e órgãos administrativos da cidade, que são dirigidas por comitês nomeados pela Câmara, entram em cena a fim de realizar a implementação.
. Quantos assistentes o senhor tem em seu escritório?
STEN NORDIN: Quinze pessoas. Tenho assessores políticos, dois assessores de imprensa e uma secretária. A maior parte da minha equipe é composta de assessores políticos, pois temos a responsabilidade de elaborar propostas políticas para o Conselho Municipal.
. O que pensa sobre o sistema de países onde prefeitos têm direito a residência oficial e todos os políticos locais recebem salários para trabalhar em tempo integral, contam com vários assessores e têm secretárias e motoristas particulares?
STEN NORDIN: Esta não seria a nossa maneira de conduzir a política local, uma vez que criaria uma enorme distância entre os políticos e os cidadãos comuns. Os cidadãos precisam acreditar, e ter razões concretas para crer, que eu compreendo a situação em que vivem as pessoas comuns, porque vivo em condições semelhantes às deles. É claro que recebo um salário acima da média, mas não tenho direito a residência oficial de luxo e não costumo circular em carro com motorista. Políticos não andam em limusines por aqui. E se tivessem tantos benefícios, iriam se distanciar dos cidadãos que representam. Eu sou um cidadão entre outros cidadãos.