Claudia Wallin, correspondente da RFI em Estocolmo
Dez idosos de uma casa de repouso da cidade sueca de Gotemburgo foram infectados com o novo coronavírus, apesar de terem recebido a segunda dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra a Covid-19. Mas segundo especialistas, não há razão para alarme.
O contágio teria ocorrido antes do prazo estimado para que a vacina atinja sua maior eficácia, a partir da aplicação da segunda dose. Nove dos dez idosos contaminados desenvolveram apenas sintomas leves da doença. Um dos idosos manifestou sintomas mais desconfortáveis, embora não graves.
Todos os residentes da casa de repouso Gerdas Gård receberam a primeira dose da vacina desenvolvida pelas farmacêuticas americana Pfizer e a alemã BioNTech em 27 de dezembro, dia em que teve início a campanha de vacinação na Suécia contra a Covid-19. No dia 19 de janeiro, foi administrada a segunda dose no asilo.
No início desta semana, diante da identificação de sinais levez de infecção entre alguns residentes, a direção do asilo começou a realizar testes – e os dez idosos testaram positivo para o novo coronavírus.
“Em geral, pode-se afirmar que a vacina atinge a eficácia prometida entre sete a 14 dias após a inoculação da segunda dose, que é o tempo estimado para que o sistema imune desenvolva anticorpos. No caso do asilo, os idosos parecem ter sido contaminados antes desse período. Portanto, ao terem entrado em contato com o vírus é provável que eles tenham contado principalmente com a proteção oferecida pela primeira dose da vacina, que já protege contra as formas graves da doença”, disse Matti Sällberg, especialista em Virologia do prestigiado Instituto Karolinska, em entrevista à TV pública SVT.
“Sem a vacina, parte dos idosos poderia ter desenvolvido sintomas muito graves da doença, o que não ocorreu. A vacina cumpriu seu papel”, salientou Sällberg.
Segundo a administração da casa de repouso, ainda não foi estabelecido de que forma o vírus penetrou no local. Mas suspeita-se que tenha sido através de funcionários – cinco trabalhadores do asilo também testaram positivo para o novo coronavírus.
“Como ocorre com todas as vacinas, leva um certo tempo para que a pessoa desenvolva anticorpos e fique protegida da doença. O importante é que pessoas vacinadas não se tornam gravemente doentes”, reforçou a diretora da agência de saúde e proteção aos idosos da região de Gotemburgo, Babbs Edberg.
Em testes clínicos, a vacina da Pfizer/BioNTech obteve uma taxa de eficácia de 95% de proteção contra a Covid-19. Mas como uma pessoa não se torna imune no momento exato da aplicação da vacina, as autoridades de saúde suecas destacam que, mesmo vacinadas, as pessoas precisam continuar a seguir as orientações para a prevenção da doença – como manter o distanciamento social e lavar as mãos com frequência.
A vacina contra a Covid-19 não impede que uma pessoa seja infectada pelo vírus – mas caso entre em contato com o vírus, uma pessoa vacinada não desenvolverá sintomas, ou terá apenas sintomas leves por um curto período.
“E definitivamente, uma pessoa vacinada não irá parar em um hospital”, ressalta o professor Matti Sällberg.
O caso de contágio dos idosos no asilo de Gotemburgo não é preocupante, assegura ele:
“Uma pessoa vacinada contra a Covid-19 por ser infectada pelo vírus, mas ela não desenvolverá a doença. É importante fazer essa diferenciação”, disse Sällberg à rádio pública Sveriges Radio. Segundo o especialista, é possível prever que casos semelhantes de infecção pelo novo coronavírus entre pessoas já vacinadas poderão ocorrer.
Uma pessoa vacinada contra a Covid-19 também pode contrair o vírus e, mesmo sem desenvolver sintomas, contagiar outras. Estudos recentes, porém, indicam que pessoas vacinadas têm menor probabilidade de transmitir vírus em quantidade suficiente para provocar sintomas graves da doença nos outros.
“A vacina já demonstrou ser eficaz contra as formas graves da doença. Sua eficácia em termos de proteção contra infecção assintomática e infecciosidade está sendo melhor estudada de forma científica”, disse o infectologista Peter Ulleryd ao jornal Dagens Nyheter.
Segundo Matti Sällberg, estudos com macacos já demonstraram que a vacina reduz de forma muito significativa os riscos de transmissão da Covid-19.
“Macacos não vacinados e que foram contaminados irradiaram uma grande quantidade do vírus em um período entre cinco e sete dias. Já macacos que foram vacinados e em seguida infectados não transmitiram praticamente nenhuma quantidade de vírus durante um ou dois dias, e alguns não transmitiram simplesmente nenhuma quantidade de vírus. O risco é mil vezes menor”, disse ele.
“Em outras palavras: quando uma pessoa é vacinada, ela não desenvolve a doença, e é altamente provável que se torne muito menos contagiosa”, acrescentou o professor.
Matti Sällberg ressalta ainda que a vacina tem um papel crucial no sentido de evitar a sobrecarga do sistema de saúde.
“Se todos forem vacinados contra a Covid-19, quase ninguém deverá ficar doente, e portanto poderá ser solucionada a pressão que atualmente abala os hospitais.
Nesta primeira fase da campanha de vacinação na Suécia, que prioriza idosos e profissionais de saúde, 216 269 pessoas receberam pelo menos uma dose da vacina, entre uma população total de 10,3 milhões de habitantes.
Até o momento, foram detectados na Suécia 95 casos da variante britânica do novo coronavírus, e três casos de pessoas infectadas com a mutação sul-africana do vírus – ambas parecem ser mais contagiosas.
29 de Janeiro de 2021