Só as ruas salvam

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.”
(“No caminho, com Maiakóvski”, de Eduardo Alves da Costa)
 
Claudia Wallin
“A um príncipe é necessário ter o povo ao seu lado”, já dizia há mais de 500 anos o filósofo italiano Nicolau Maquiavel no célebre O Príncipe, a obra clássica sobre a natureza do poder. “De outro modo, ele sucumbirá às adversidades.”
A gritante conclusão: não há poder que resista à pressão sistemática das ruas.
Poder-se-á pensar que Michel Temer e seus comparsas nos Três Poderes estarão agora tomados de espasmos intestinais, na segurança de seus WC, acompanhando as maciças manifestações de indignação virtual nas redes sociais pela absolvição do Conde no TSE? Duvidá-lo-ei.
O Jaburu está em festa. E no mundo virtual, o depressômetro das redes sociais registra centenas de pérolas ancestrais de resignação e letargia, com realce para a máxima “só no Brasil mesmo isso pode acontecer”.
Até quando? Já mataram o cão.
O previsível folhetim encenado no TSE e presidido pelo juiz (sic) Gilmar Mendes é mais um insulto à inteligência do cidadão – e mais uma evidência de que a farsa que move o poder político também contamina e desmoraliza o Poder Judiciário.
Só a união das ruas salva.
Conheça “Um País Sem Excelências e Mordomias”
10 de Junho de 2017

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