“Vai pra Suécia” – vereadores de Pelotas protestam contra colega que abriu mão de verba

Pela primeira vez, um político brasileiro sobe à tribuna com o livro “Um País Sem Excelências e Mordomias” nas mãos, para falar sobre o exemplo sueco de respeito ao dinheiro público: na Câmara Municipal da cidade de Pelotas (RS), o vereador Daniel Trzeciak (PSDB) esgrimiu o livro para anunciar que renunciou à verba de gabinete – uma quantia anual de R$ 21 mil por vereador destinada a gastos com cópias de xerox, correios, telefone celular. Ele vai custear esses serviços com o próprio salário, de R$ 10 mil brutos.
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Foi um pequeno gesto – na Suécia, vereadores não recebem sequer salário, e não têm direito a gabinete: eles trabalham de casa. Mas se o gesto de Daniel fosse seguido pelos demais 20 vereadores, Pelotas chegaria a uma economia de R$ 1,7 milhão em quatro anos de mandato.
Da tribuna da Câmara, Daniel Trzeciak leu os dizeres da capa de “Um País Sem Excelências e Mordomias”: ‘Na Suécia, os políticos ganham pouco, andam de ônibus e bicicleta, cozinha sua comida, lavam e passam suas roupas e são tratados como “você. No Brasil…”. Do exemplo sueco, veio a iniciativa de abrir mão da verba de gabinete.

O vereador na tribuna com o livro “Um País Sem Excelências e Mordomias”
 
 
 
 
 
 
 
 
Foi o suficiente para que seis vereadores subissem à tribuna para protestar.
“Algumas coisas que Daniel ouviu de colegas”, informou o jornal digital Amigos de Pelotas:
“Vai morar na Suécia”. “Fecha o gabinete, apaga a luz, deixa de tomar café”. Em privado, um vereador perguntou ao jovem tucano: “Tu preferes estar de bem com a população e de mal com teus colegas?”Detalhe: nenhuma voz se ergueu na sessão para defendê-lo.”
A reportagem da RBS, afiliada da TV Globo, mostra a reação do vereador Anderson Garcia (PTB) ao subir à tribuna:“Não estamos na Suécia. Estamos no Brasil, um país de terceiro mundo”.
Vereador Anderson Garcia (PTB): “Estamos no Brasil, um país de terceiro mundo”
 
 
 
 
 
 
 
 
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Do site Amigos de Pelotas:

‘Vai morar na Suécia’, disseram ao vereador Daniel. Motivo: ele ter tomado uma iniciativa lógica e exemplar. Este é o Brasil…

O fato mais importante desta semana na política pelotense partiu de um vereador. Em primeiro mandato, um jovem jornalista, Daniel Trzeciak, do PSDB, renunciou à Verba de Gabinete na Câmara, uma quantia anual de R$ 21 mil por vereador destinada a gastos com cópias de xerox, correios, telefone celular. Ele vai custear esses serviços com o próprio salário, de R$ 10 mil brutos. Adivinhe. Houve vereadores que se sentiram ofendidos e o acusaram de “demagogia”.
Se o gesto de Daniel fosse seguido pelos demais 20 vereadores, Pelotas chegaria a uma economia de R$ 426, 2 mil por ano – R$ 1,7 milhão em quatro anos de mandato. Para se ter ideia, com esse dinheiro o Executivo poderia custear o Carnaval por cinco anos, nos moldes em que é feito hoje, além de benfeitorias em escolas e postos de saúde.
Daniel foi influenciado pelo livro Um país sem excelências nem mordomias, da jornalista brasileira Cláudia Wallin. O livro mostra que na Suécia vereadores não recebem salário, não têm sede própria. Eles ganham um notebook do governo e trabalham de casa, em rede com os colegas, e se reúnem em instalações emprestadas pela prefeitura.
O jovem tucano não propôs uma mudança radical como na Suécia. Movendo-se dentro da corporativa e atrasada política brasileira, que infelizmente não é como a sueca, ele tomou uma decisão pessoal que pode ou não ser seguida pelos outros.
Foi um pequeno passo.
Mas foi o bastante para que seis vereadores subissem à tribuna para se opor à ideia e outros mais tenham feito o mesmo em apartes às intervenções do sexteto.
Saíram de suas cadeiras e foram à tribuna os vereadores Marcus Cunha (PDT), Anderson Garcia (PTB), Ademar Ornel (DEM), Marcos Ferreira (PT), Daiane Dias (PSB) e Valdomiro Lima (PRB).
‘VAI MORAR NA SUÉCIA’
Algumas coisas que Daniel ouviu de colegas: “Vai morar na Suécia”. “Fecha o gabinete, apaga a luz, deixa de tomar café”.
Em privado, um vereador perguntou ao jovem tucano: “Tu preferes estar de bem com a população e de mal com teus colegas?”
Respondeu assim: “Prefiro estar em paz com a minha consciência”.
Detalhe: nenhuma voz se ergueu na sessão para defendê-lo.
‘FIQUEI SURPRESO COM A REAÇÃO’
“Eu fiquei surpreso com as reações e com a distorção que fizeram de minhas palavras”, diz Daniel, por telefone.
“Meu compromisso é com a população. É inadmissível que se utilize tanto dinheiro público com serviços que podem ser economizados. Estou fazendo a minha parte, procurando dar exemplo. A economia que decidi fazer dá retorno para a cidade. Só teremos resultados diferentes se agirmos diferente”, justificou Daniel.
A decisão do jovem tucano, que é também jornalista e administra o site Vergamota, de onde recebe pró-labore, faz sentido lógico, por cívica, sobretudo em tempos de crise econômica, como a que passa o País.
Faz sentido, inclusive, porque, mesmo sem aquela verba de gabinete à qual ele renunciou, no quesito xerox, por exemplo, todos os gabinetes já estão servidos cada um de uma copiadora de xerox multifuncional, com direito a papel e toner. Ou seja, há um gasto redundante com xerox. E continuará assim em todos os gabinetes, menos no de Daniel.
O novo, aquilo que desacomoda, sempre provoca reações negativas. Por isso também Daniel merece o reconhecimento. Ele foi corajoso, deu um passo adiante, deu um exemplo, não teve medo de pagar o preço do isolamento.
“Eu não faço da atividade de vereador um fim em si mesmo, não vejo a política como uma carreira profissional. Tenho minha profissão, sou jornalista e empresário. Hoje eu estou vereador”.
1000 REAIS DE CELULAR
Enquanto ele ouvia os protestos dos colegas que foram à tribuna para mandá-lo ir viver na Suécia, outros circulavam falando baixinho ao celular. Por falar nisso, há vereadores em Pelotas que gastam mil reais com contas de telefone celular, pagas pelo contribuinte.
A Câmara de Pelotas existe há 180 anos. No prédio onde está instalada hoje, na rua Quinze de Novembro, pagam R$ 40 mil de aluguel, talvez o maior valor pago por uma locação da cidade.
Traduzindo: se você quer ver um Legislativo municipal moderno, vá morar Suécia. Felizmente, ainda há quem rejeite a ideia de que viver no Brasil seja uma condenação. Daniel merece o aplauso dos pelotenses pelo pequeno mas exemplar passo que teve a coragem de dar.

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