Nova política em Goiás: vereador vai dividir mandato com voluntários e doar salário

RADAR BRASIL

Novidade em Goiás: um mandato coletivo de vereador. João Yugi foi eleito vereador da cidade de Alto Paraíso com uma proposta de convidar pessoas de diferentes expertises para dividir as tarefas – e também doar o salário para o município.

Ou seja, o honorário de R$ 5 mil que um vereador da cidade recebe será destinado ao munícipio. “Todos do grupo vão trabalhar de forma voluntária. Toda vez que chegar o dinheiro do mês, vamos nos reunir e discutir de que forma ele será aplicado. É por isso que, quem quiser entrar no grupo, precisa realmente querer e assinar esse acordo”, explica João.

Junto com João, que vai cuidar da parte jurídica, trabalham no mandato Ivan Anjo Diniz (cultura), Laryssa Galantini (ambiente), Luís Paulo Nunes (turismo e comércio) e professor Sat (educação). “Estamos buscando ainda alguém que trabalhe na área da saúde”, disse Yuji ao Portal da Band.

“Com o dinheiro que vamos receber através do mandato do João queremos, por exemplo, investir nas nascentes no entorno da cidade, fazer uma brigada voluntária na época do fogo e atuar com educação ambiental em diversos problemas que temos na cidade”, conta a bióloga Laryssa Galantini.

“Por sermos um grupo muito unido, acredito que conseguiremos alcançar nossos objetivos com a comunidade local, bem como formar uma rede com interessados em fazer outros mandatos coletivos com o nosso modelo em outros municípios”, completou a bióloga.

O mandato ainda está aberto para adesão de novos membros.

A ideia do mandato coletivo é suprapartidária, e reúne pessoas de diferentes ideologias.

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O mandato coletivo da esquerda para a direita: professor Sat, Laryssa Galantini, Ivan Anjo Diniz, João Yuji e Luís Paulo Nunes
O mandato coletivo da esquerda para a direita: professor Sat, Laryssa Galantini, Ivan Anjo Diniz, João Yuji e Luís Paulo Nunes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Do Portal da Band:

Cidade goiana elegeu um vereador, mas terá cinco

Nas eleições municipais de 2016, mais de 25 milhões de eleitores brasileiros se abstiveram de registrar seu voto em todo o País. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram ainda que os votos brancos, nulos e ausências nas urnas “venceram” o primeiro turno para a prefeitura de dez capitais, sendo que no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte esse número foi maior do que os votos obtidos pelos dois candidatos que, agora, disputam o segundo turno.

A insatisfação diante da velha política no Brasil também incomodou alguns candidatos que disputaram o pleito deste ano. Entusiasta da política desde criança, e contagiado com o apelo por mudanças que despontou nas manifestações de junho de 2013, quando morou em São Paulo, João Yuji retornou para Alto Paraíso, em Goiás, querendo sugerir algo novo.

partir de 2014, ele começou a desenvolver um formato para um mandato coletivo, convidando pessoas de diferentes expertises para dividirem as tarefas e atender as demandas do município. “Nossa ideia é descentralizar o poder legislativo. É uma articulação em longo prazo, que, das câmaras municipais, queremos levar até o Congresso Nacional”, explica João ao Portal da Band.

Na cidade com cerca de quatro mil votantes, a ideia agradou, e João – candidato formalmente registrado – venceu as eleições pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN), apresentando uma proposta diferente.

Junto com João, que cuidará da parte jurídica, trabalham no mandato Ivan Anjo Diniz (cultura), Laryssa Galantini (ambiente), Luís Paulo Nunes (turismo e comércio) e professor Sat (educação). “Estamos buscando ainda alguém que trabalhe na área da saúde”, disse Yuji.

Salário e novos membros

A novidade levantou algumas dúvidas em Alto Paraíso. Alguns questionaram como o grupo faria com relação ao salário que o mandato de um homem só receberia. Para isso, o coletivo registrou em cartório um acordo e o divulgou para os eleitores. O artigo 12 do acordo diz, por exemplo, que o subsídio do vereador “será de propriedade do coletivo, que somente poderá aplicar tais valores em assuntos de interesse comum do Município”.

Ou seja, o honorário de R$ 5 mil que um vereador da cidade recebe será destinado ao munícipio. “Todos do grupo vão trabalhar de forma voluntária. Toda vez que chegar o dinheiro do mês, vamos nos reunir e discutir de que forma ele será aplicado. É por isso que, quem quiser entrar no grupo, precisa realmente querer e assinar esse acordo”, explica João.

Sim, o mandato está aberto para adesão de novos membros, mas, para tanto, é preciso passar por um período de experiência e conseguir uma aprovação unânime. “Se uma pessoa do grupo não concordar com a entrada de uma nova pessoa, está vetado”, acrescenta o vereador eleito.

Existe ainda a possibilidade de expulsão, se assim o grupo desejar. João conta ainda que, embora as decisões sejam do coletivo, a opinião do eleitorado vai pesar. “Nossa ideia é estar perto do eleitorado, queremos que ele esteja lá conosco nas sessões da Câmara, mostre suas demandas e se aproxime; o nosso trabalho tem que ser feito com transparência.”

Uma política nova (e menos partidária)

Primeiro a abraçar a causa e a integrar o mandato coletivo, o turismólogo Ivan Anjo Diniz não é filiado a nenhum partido político; nem ele, e nem os outros membros do mandato – com exceção de João, claro, que precisava de uma legenda para se lançar candidato. “Não acreditamos muito nesse sistema que está aí. A ideia do mandato coletivo é suprapartidária e reúne pessoas de diferentes ideologias”, detalha.

Uma das coisas que atraiu Ivan para o projeto, além desse compromisso mais político, porém menos partidiário, foi a ideia de priorizar o comunitário, deixando de lado o “ego” e a “personalização” no Legislativo. O turismólogo acredita que as abstenções cada vez maiores nas eleições mostram que a política não pode estacionar.

“A Câmara [Municipal de Alto Paraíso] era bem conservadora antes, agora tem mais jovens lá querendo fazer algo novo ali, abertos para propostas, com interesse em ajudar. Acho que estamos construindo um novo momento político”, disse ao Portal da Band.

Dos nove vereadores que lá trabalham, apenas um permanece após as eleições de 2016. “Isso mostra que a própria população buscou essa renovação. Ninguém aguentava mais continuar como estava.”

Ações e projetos

Antes mesmo de assumir o mandato em 2017, o coletivo já começa, em 18 de dezembro, a realizar mutirões por Alto Paraíso para agradecer os votos que recebeu. Os mutirões vão, inclusive, continuar acontecendo a partir do ano que vem para que se verifiquem as demandas – como limpeza e reformas – de cada bairro da cidade.

Outra preocupação do grupo é como a questão da segurança é vista pelo olhar político. “O nosso viés não é policialesco. Quando pensamos em segurança, temos que pensar em trabalhar com a infância e a juventude e na criação de oportunidades”, exemplificou Ivan.

Outras áreas de atenção serão educação, cultura, turismo, saúde e a veia mais forte do coletivo, o meio ambiente. “Com o dinheiro que vamos receber através do mandato do João queremos, por exemplo, investir nas nascentes no entorno da cidade, fazer uma brigada voluntária na época do fogo e atuar com educação ambiental em diversos problemas que temos na cidade”, conta a bióloga Laryssa Galantini à reportagem.

“Por sermos um grupo muito unido, acredito que conseguiremos alcançar nossos objetivos com a comunidade local, bem como formar uma rede com interessados em fazer outros mandatos coletivos com o nosso modelo em outros municípios”, completou a bióloga, que define as expectativas para o início do mandato como as melhores possíveis.

“O apoio que estamos recebendo não só dos moradores de Alto Paraíso, mas também do Brasil todo, tem nos fortalecido muito, nos motivado cada dia mais a trabalhar voluntariamente e a acreditar que estamos no caminho certo”, finaliza Laryssa.

 

15 de Outubro de 2016

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