Patrulhas anti-imigrantes tomam as ruas de países nórdicos

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CRÔNICAS DA ESCANDINÁVIA
Por Claudia Wallin, para a BBC Brasil
Patrulhas urbanas anti-imigrantes vêm emergindo nas ruas da Finlândia, da Noruega e mais recentemente da Dinamarca, em reação ao fluxo recorde de refugiados que chegaram aos países nórdicos. São os chamados Soldados de Odin, que acusam os refugiados de provocar um aumento da criminalidade e afirmam ter a missão de “proteger a população” contra os “intrusos islâmicos”.
Na mitologia nórdica, Odin é o deus da sabedoria – e também da guerra. Os “soldados” caminham pelas ruas com jaquetas pretas, decoradas com a estampa de um capacete viking. Andam desarmados, mas refletem a tensão social gerada pela entrada maciça de refugiados na região. E já começam a conquistar adeptos também na Suécia e em outros países do norte da Europa, como a Alemanha.
“Detectamos a movimentação de simpatizantes do grupo na Suécia há poucas semanas”, disse à BBC Brasil o oficial Mats Grundström, da unidade de inteligência da polícia sueca. “Nenhum incidente foi registrado ainda, mas estamos de olho neles”, acrescentou.
Os Soldados de Odin dizem querer ser os olhos e ouvidos da polícia. Para os críticos, trata-se de um bando de justiceiros xenófobos.
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“Queremos acabar com a criminalidade que vemos hoje em nosso país, e que a polícia é incapaz de enfrentar”, disse um porta-voz norueguês dos patrulheiros, que marcharam recentemente pelas ruas de diversas cidades da Noruega.
“Drogas estão sendo vendidas, mulheres estão sendo tocadas, há ataques e violência”, acusou.
O grupo surgiu no fim do ano passado na Finlândia, onde é suspeito de manter vínculos com grupos neonazistas. Na Noruega, a polícia afirma que alguns membros do grupo têm ligações com o crime. Nas mídias sociais, um patrulheiro norueguês publicou fotos em que aparece empunhando armas automáticas e bandeiras da Noruega.
“Migrantes não são bem-vindos”, lê-se nas faixas carregadas pelos Soldados de Odin. Até o momento, nenhuma denúncia de agressão a refugiados foi feita contra os patrulheiros.
A estimativa é de que o grupo reúne cerca de 500 integrantes na Finlândia – mas a página dos Soldados de Odin no Facebook mostra que o grupo já conta com mais de 32 mil simpatizantes no país. A página registra ainda vários comentários racistas e de apoio ao grupo, enviados por internautas de países como Áustria, Austrália e Canadá.
Ativistas anti-racismo também se mobilizam: durante ato na cidade finlandesa de Tammerfors, manifestantes fantasiados de palhaços dançaram em torno dos Soldados de Odin (Soldiers of Odin, no nome original em inglês), a quem chamavam de “LOLdiers of Odin” – uma referência à sigla inglesa LOL (“laughing out loud”, que em português pode ser traduzida como “rindo muito alto”).
Na cidade norueguesa de Tønsberg, residentes rechaçaram os patrulheiros afirmando que não precisavam de proteção.
 
 
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Os governos nórdicos têm expressado sua condenação à atuação das patrulhas urbanas.
Na Noruega, a temperatura política subiu nos últimos dias, quando um deputado do Partido Progressista – a força de extrema-direita que compõe a coalizão de governo com o Partido Conservador – elogiou a atuação dos patrulheiros de Odin.
“É claro que não damos apoio ilimitado aos Soldados de Odin. Mas há tempos enfrentamos uma situação nas ruas que ninguém deseja, com crimes sendo cometidos e outros atos indesejáveis, e a polícia norueguesa não possui recursos para fazer seu trabalho. Portanto, achamos que qualquer cidadão que queira contribuir para reduzir a insegurança e o crime deve ser saudado”, disse o deputado Jan Arlid Ellingsen, durante um debate na rádio norueguesa.
A primeira-ministra norueguesa, Erna Solberg, usou o Twitter para se distanciar rapidamente dos comentários do deputado.
“Os Soldados de Odin não têm lugar na tarefa de manter a segurança nas ruas. Valores perigosos. As palavras de Ellingsen não representam o governo”, escreveu Solberg em sua conta.
Outros integrantes do Partido Progressista também rechaçaram os comentários do deputado, incluindo a líder da sigla e ministra das Finanças, Siv Jensen.
O Partido Socialista de Esquerda foi além, e demandou que o governo norueguês determine a legalidade das patrulhas dos Soldados de Odin.
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Na Finlândia, a polícia diz que a Constituição garante aos cidadãos a liberdade de movimento, e que não há amparo legal para proibir as chamadas patrulhas urbanas.
Mas:
“Isso não dá a nenhum grupo o direito de interferir na liberdade de movimento dos demais cidadãos”, destacou na TV finlandesa Yle o comandante da polícia nacional, Seppe Kolehmainen.” A polícia acompanha a situação e estará pronta para intervir diante de eventuais ações ilegais”, acrescentou ele.
A polícia sueca tem a mesma visão.
“Não é ilegal caminhar em grupos, desde que esses grupos não cometam nenhum ato ilegal. A lei não proíbe ninguém de andar nas ruas”, diz o oficial Mats Grundström.
Mas o aumento do ativismo xenófobo preocupa: a agência de inteligência norueguesa (PST) adverte que a ameaça representada por grupos de extrema-direita vem crescendo na Noruega.
Ao contrário da Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca não têm tradição de receber grandes números de refugiados. Em 2015, um total de 32 mil migrantes chegaram à Finlândia – um número quase dez vezes maior do que o número registrado no ano anterior, em um país com uma população de 5,4 milhões de habitantes que há três anos vive uma recessão econômica.
A Noruega também recebeu um número recorde de 31 mil refugiados. A Dinamarca registrou 20 mil pedidos de asilo, e chegou a aprovar uma controversa lei que permite o confisco de bens de refugiados para ajudar a cobrir suas despesas. Na Suécia, chegaram 163 mil solicitantes de asilo – a maior taxa per capita de recepção de migrantes registrada na Europa. Todos os países tentam agora conter as portas, em um continente dividido diante da magnitude do êxodo dos desesperados em fuga.
Os Soldados de Odin crescem em meio a um clima de medo e desconfiança que se forma entre determinadas parcelas da população, e que turbina os índices de popularidade dos partidos anti-imigração.
A polarização foi acentuada a partir de notícias de roubos e atos de agressão sexual supostamente praticados por imigrantes na capital finlandesa durante a celebração do Ano Novo, além de acusações de que a polícia sueca ocultou denúncias sobre incidentes similares na capital, Estocolmo – e que teriam se reproduzido em Colônia e outras cidades da Alemanha.
Entre outros incidentes, uma assistente social de 22 anos de idade foi morta a facadas por um refugiado na Suécia, quando tentava apartar uma briga em um abrigo para imigrantes menores de idade.
Mas muitos argumentam que trata-se de casos isolados por parte de determinados grupos, enquanto alertam para o perigo de uma onda indiscriminada de ódio aos imigrantes.
E os diversos casos de incêndios suspeitos e ataques contra centros de refugiados, que se vê nos países nórdicos, são sinal de que os imigrantes também estão com medo.
Março de 2016
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