Claudia Wallin, para a Rádio França Internacional
Enquanto no Brasil a reforma trabalhista suprime direitos sociais históricos, na Suécia uma empresa estatal decidiu criar um prêmio sedutor para incentivar os trabalhadores a cuidarem mais da saúde: os funcionários que se exercitarem nas horas livres podem ganhar até uma semana extra de férias por ano. A iniciativa é da Mimer, a agência de habitação da cidade de Västerås, situada a cerca de cem quilômetros da capital sueca.
Trata-se de uma proposta generosa – até porque, por força das leis trabalhistas da Suécia, os suecos já têm direito a pelo menos cinco semanas de férias por ano.
A decisão de criar o prêmio foi tomada depois de a estatal ter detectado um aumento do número de casos de doença entre os funcionários, relacionados principalmente a estresse.
“A cada dois anos, conduzimos exames médicos de nossos trabalhadores, a fim de acompanhar suas condições de saúde. E recentemente, verificamos um crescimento preocupante da ocorrência de casos de insônia, ansiedade e estresse, além de um aumento do índice de faltas ao trabalho. E começamos a nos perguntar, ‘o que podemos fazer para ajudar nossos trabalhadores a melhorar sua saúde?”, disse à RFI a diretora de Recursos Humanos e Qualidade da estatal sueca, Wivecka Ljungh.
Foi então que surgiu a ideia de incentivar os empregados a se exercitarem.
“Sabemos que as atividades físicas têm um efeito positivo sobre os sintomas relacionados ao estresse, e sempre conversamos com nossos funcionários sobre a importância do equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Mas muitos empregados diziam que não tinham tempo para se exercitar, e que portanto gastar mais horas com isso só aumentaria o seu nível de estresse. Então, decidimos dar mais tempo livre a eles, na forma férias extras”, conta a diretora.
Mais da metade dos 140 funcionários da estatal já aderiram à iniciativa. Para cumprir o programa, eles recebem da empresa uma lista das atividades físicas recomendadas para combater e prevenir o estresse – que são basicamente exercícios aeróbicos moderados, como a caminhada, a natação, a corrida, a bicicleta e a equitação. E os funcionários também podem sugerir outras modalidades.
Os trabalhadores que aderem ao programa precisam então manter o que a empresa chama de um ‘diário de exercícios’, onde eles anotam regularmente o tipo de atividade que realizam, e também o número de horas que passam se exercitando. Como prêmio, eles recebem da estatal, como férias extras, 20% do tempo que dedicam às atividades físicas. E para aqueles que decidem aproveitar a oportunidade ao máximo, a recompensa pode chegar a uma semana inteira de férias adicionais por ano.
A estatal já paga integralmente as mensalidades dos funcionários que decidem se exercitar na academia de ginástica com a qual a empresa tem convênio, e também oferece subsídios para os trabalhadores que preferem fazer atividades em outra academia. Esta é uma política adotada pela grande maioria das empresas suecas, que também oferecem subsídios aos funcionários para fazer sessões de massagem no escritório, dentro do horário de trabalho. No caso da estatal Mimer, a empresa paga 50% do custo da sessão de massagem. Para outras atividades físicas que os trabalhadores escolham fazer, os funcionários se responsabilizam pelos custos.
“E é claro que várias atividades, como caminhar e andar de bicicleta, não custam nada”, diz Wivecka Ljungh.
A diretora reage com perplexidade à pergunta sobre se a empresa não teme que alguns funcionários possam simplesmente mentir sobre suas atividades físicas, a fim de receber férias extras.
“Não há de fato como controlar se os funcionários estão realmente fazendo os excercícios que anotam no diário, uma vez que as atividades são praticadas fora do horário de trabalho. Mas não acredito que eles possam mentir. A cultura predominante nas empresas suecas, em geral, é uma cultura de confiança. E se por acaso algum funcionário mentisse, ele seria afinal o grande perdedor, em termos da sua própria saúde”, pondera Wivecka.
A diretora destaca que a iniciativa é boa para os funcionários, e também para a empresa:
“Evidentemente, esta iniciativa vai custar caro para nós. Mas acreditamos que a empresa vai receber muito mais de volta. Pois teremos funcionários mais saudáveis, mais felizes e mais produtivos.”
O resultado da iniciativa vai ser avaliado daqui a um ano, quando a estatal sueca vai realizar novos exames médicos dos funcionários. Mas segundo Wivecka Ljungh, todos acreditam que esta é uma ideia que veio para ficar.
29 de Julho de 2017
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