Na Suécia, os políticos ganham pouco, andam de ônibus e bicicleta, cozinham sua comida, lavam e passam suas roupas e são tratados como “você”. No Brasil…
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Eleito o melhor ministro de finanças da Europa pelo jornal inglês Financial Times, Anders Borg vive em um apartamento de 25 m2. Deputados espremem-se em exíguos 18 m2. Não têm direito a nenhum luxo, mesmo vivendo numa das nações mais ricas do planeta. E não aumentam os próprios salários. Não possuem carro oficial, motorista ou um cortejo de assessores. Andam de metrô, ônibus, bicicleta ou a pé. E correm o sério risco de caírem em desgraça – e até irem parar nas manchetes – se usarem táxi sem necessidade ou simplesmente por comprarem uma barra de chocolate com o cartão corporativo. Vereadores não têm salários. Políticos vivem em casas simples.
Tudo isto parece fantasia, mas é a mais pura realidade, que a jornalista brasileira Claudia Wallin observou durante dez anos e transformou no livro ‘Um País sem Excelências e Mordomias’. A sociedade em questão é a da Suécia, mas ao longo da narrativa fluente e bem-humorada, o Brasil está presente como um espelho invertido. O que nos deixa cheios de inveja. Por exemplo: qualquer político é chamado simplesmente de “você”. O tratamento de “Excelência” foi abolido faz tempo.
Deputados e ministros lavam e passam suas próprias roupas. Aspirador em punho, o primeiro-ministro sueco limpa a própria casa – e dá dicas na imprensa sobre como fazer uma limpeza mais eficaz.
Quem sai da linha, sofre o peso da lei. Nem as celebridades escapam. Suspeito de fraude fiscal, o cineasta Ingmar Bergman foi preso no próprio teatro e arrastado para dar explicações.
Ao ler este espantoso livro sobre a Suécia, mais parece que estamos lendo um livro de ficção científica, sobre um país utópico qualquer. Mas como isso pôde ser possível? Como a democracia pôde se consolidar naquele país gelado, habitado no passado remoto por um bando de selvagens louros que a lenda desenhou vestindo peles e usando chifres na cabeça?
“História. Educação. Reforma política. Construção e defesa de instituições sólidas. A Suécia, há menos de 100 anos, era um país pobre, mas habitado por um povo determinado a sair da pobreza e do atraso. E conseguiu”, afirma o editor e publisher Luiz Fernando Emediato. O segredo – que não é segredo, segundo Emediato – é sempre o mesmo: “investimento em educação, ciência, tecnologia, justiça, projetos nacionais integrados.”
Um país sem excelências e mordomias não é apenas uma fotografia do presente. Vasculhando no passado os fundamentos da democracia sueca, Claudia viaja até as comunidades vikings e seu costume de tomar decisões, em grupo e no voto, passa pela Idade Média e o tumultuado século 19. Entrevista ministros, deputados, jornalistas, prefeitos, juristas, cidadãos para desvendar este universo tão distante dos brasileiros. E encontra o tripé que gerou e mantém este país singular: transparência, alta escolaridade e igualdade social. É, ainda, uma receita poderosa contra a corrupção.
O posfácio do livro, escrito pelas jornalistas Izabelle Torres e Josie Jerônimo, traz uma aula para o Brasil, que sustenta o segundo congresso mais caro do mundo – atrás apenas dos Estados Unidos. É nesse desfecho que nosso país emerge do subtexto e sobe à superfície com suas mazelas. Aqui, política é sinônimo de mordomia e cada parlamentar custa US$ 7,4 milhões/ano. No Brasil, ministros viajam de jatinhos da Força Aérea Brasileira, possuem carro com motorista e privilégios na alfândega. De vez em quando, pegam carona em aviões de empresários e ganham presentes. Deputados contam com verbas altas para tudo – gasolina para automóveis e aviões, comida, assessores, passagens. Ministro viajar em aviões da FAB é considerado normal. Pegar carona em aviões de fornecedores do governo, não – e eles são denunciados quando surpreendidos. Mas isso é o de menos, como você vai ver neste livro que, ao tratar de um país distante – a Suécia – nos faz lembrar a todo tempo do Brasil.
No Brasil, o sistema de governo – analisa Emediato – é de República Presidencialista, com um Executivo, um Legislativo e um Judiciário, mas, que coisa estranha, o Judiciário legisla, o Legislativo participa do Executivo, nomeando ministros, secretários e altos funcionários de bancos e estatais, e o Executivo também legisla. A “res publica”, a coisa pública, torna-se imediatamente propriedade privada, de pessoas, grupos e corporações.
Pudera, os parlamentares têm direito não aos cubículos de 18m2, mas a imensos apartamentos, alguns com banheira de hidromassagem e mobília de grife. Presidentes e governadores moram em palácios.
Assim como é fascinante ler este livro, é desanimador concluir que ainda falta muito, mas muito mesmo, para o Brasil atingir um nível de civilização que nos permita ombrear com as democracias de verdade. Sem reforma política – por uma Comissão Independente, pois o Congresso atual não a fará – e sem investimento em educação nada ou pouco se obterá.
Como se percebe, Um país sem excelências e mordomias tem muito a ensinar ao leitor e, sobretudo, ao eleitor.
Ao ler este espantoso livro sobre a Suécia, mais parece que estamos lendo um livro de ficção científica, sobre um país utópico qualquer. Mas como isso pôde ser possível? Como a democracia pôde se consolidar naquele país gelado, habitado no passado remoto por um bando de selvagens louros que a lenda desenhou vestindo peles e usando chifres na cabeça?
“História. Educação. Reforma política. Construção e defesa de instituições sólidas. A Suécia, há menos de 100 anos, era um país pobre, mas habitado por um povo determinado a sair da pobreza e do atraso. E conseguiu”, afirma o editor e publisher Luiz Fernando Emediato. O segredo – que não é segredo, segundo Emediato – é sempre o mesmo: “investimento em educação, ciência, tecnologia, justiça, projetos nacionais integrados.”
Um país sem excelências e mordomias não é apenas uma fotografia do presente. Vasculhando no passado os fundamentos da democracia sueca, Claudia viaja até as comunidades vikings e seu costume de tomar decisões, em grupo e no voto, passa pela Idade Média e o tumultuado século 19. Entrevista ministros, deputados, jornalistas, prefeitos, juristas, cidadãos para desvendar este universo tão distante dos brasileiros. E encontra o tripé que gerou e mantém este país singular: transparência, alta escolaridade e igualdade social. É, ainda, uma receita poderosa contra a corrupção.
O posfácio do livro, escrito pelas jornalistas Izabelle Torres e Josie Jerônimo, traz uma aula para o Brasil, que sustenta o segundo congresso mais caro do mundo – atrás apenas dos Estados Unidos. É nesse desfecho que nosso país emerge do subtexto e sobe à superfície com suas mazelas. Aqui, política é sinônimo de mordomia e cada parlamentar custa US$ 7,4 milhões/ano. No Brasil, ministros viajam de jatinhos da Força Aérea Brasileira, possuem carro com motorista e privilégios na alfândega. De vez em quando, pegam carona em aviões de empresários e ganham presentes. Deputados contam com verbas altas para tudo – gasolina para automóveis e aviões, comida, assessores, passagens. Ministro viajar em aviões da FAB é considerado normal. Pegar carona em aviões de fornecedores do governo, não – e eles são denunciados quando surpreendidos. Mas isso é o de menos, como você vai ver neste livro que, ao tratar de um país distante – a Suécia – nos faz lembrar a todo tempo do Brasil.
No Brasil, o sistema de governo – analisa Emediato – é de República Presidencialista, com um Executivo, um Legislativo e um Judiciário, mas, que coisa estranha, o Judiciário legisla, o Legislativo participa do Executivo, nomeando ministros, secretários e altos funcionários de bancos e estatais, e o Executivo também legisla. A “res publica”, a coisa pública, torna-se imediatamente propriedade privada, de pessoas, grupos e corporações. Pudera, os parlamentares têm direito não aos cubículos de 18m2, mas a imensos apartamentos, alguns com banheira de hidromassagem e mobília de grife. Presidentes e governadores moram em palácios.
Assim como é fascinante ler este livro, é desanimador concluir que ainda falta muito, mas muito mesmo, para o Brasil atingir um nível de civilização que nos permita ombrear com as democracias de verdade. Sem reforma política – por uma Comissão Independente, pois o Congresso atual não a fará – e sem investimento em educação nada ou pouco se obterá.
Assim como é fascinante ler este livro, é desanimador concluir que ainda falta muito, mas muito mesmo, para o Brasil atingir um nível de civilização que nos permita ombrear com as democracias de verdade. Sem reforma política – por uma Comissão Independente, pois o Congresso atual não a fará – e sem investimento em educação nada ou pouco se obterá.
Como se percebe, Um país sem excelências e mordomias tem muito a ensinar ao leitor e, sobretudo, ao eleitor.